Professor Cosmelli, o Yogi da Alegria

Cosmelli tem como nome de batismo um sugestivo Francisco. E ele foi de fato um ser humano que acreditava na bondade e na alegria como sentimentos inerentes a todo ser.  Talvez por isso, não se considerasse um mestre, apenas professor. E, através desta sua atitude conseguiu transmitir a seus alunos e amigos os mais preciosos ensinamentos do Yoga: generosidade, compaixão, amor incondicional.

 Mas o caminho que este Francisco trilhou até se tornar um disseminador do Yoga durante  mais de 40 anos, é que fez seus alunos, seus pupilos e mesmo os amigos, o chamarem Mestre.

Até o final dos anos 50, Francisco Cosmelli era alto executivo de uma empresa multinacional no Rio de Janeiro, onde nasceu. Nessa época com 30 e poucos anos, descobriu no yoga um alívio para a tensão profissional. Pouco mais tarde, quando foi transferido para Porto Alegre diagnosticou-se uma séria doença. 

Cosmelli, apesar de abatido, resolveu se curar  através das técnicas do Yoga. Com dedicação, disciplina e o auxílio dos ensinamentos e bênçãos dos mestres Satyananda e Sivananda Saraswati e através de livros recobrou a saúde física e criou um firme alicerce que poderia compartilhar . Descobriu um caminho que até então não desconfiava ser capaz de trilhar.

A transformação que o Yoga realizou em sua vida foi radical. Cosmelli se dedicou cada vez mais ao estudo do Yoga em viagens à Ìndia entre 1960 e 70. Escreveu sua tese de Mestrado em Yoga. Estudou Sânscrito, Filosofia e Psicologia do Yoga e Tantra  e se inspirava na linhagem do mestre Sivananda Saraswati e de seu discípulo e criador da Bihar School of Yoga, Swami Satyananda Saraswati.

Tinha um gênio curioso e eclético, e muita facilidade para aprender e ensinar.

 Quando se deu conta havia se curado externa e internamente, abandonou a antiga vida de executivo e se tornou um discípulo da filosofia yogi.

O início foi gradual, dava aulas a amigos no mesmo espaço onde havia um grupo de estudos ocultistas, naquelas décadas de mudanças. Daí a montar sua própria escola, foi um movimento natural  como toda sua vida.  

Cosmelli sempre foi uma pessoa de fé, definida e compassiva, sendo assim, sabia da alegria do cotidiano para lapidar a si próprio. E, como o resultado foi positivo, estimulou seus alunos através de seu sorriso, de sua vitalidade e alma de criança a uma profunda e suave transformação interior, rumo ao verdadeiro e estável caminho do autoconhecimento. E tanto é assim que o confirmam seus alunos e amigos mais antigos nestes depoimentos:

 “...uma pessoa que trouxe para Porto Alegre um estilo de Yoga tradicional, simples e ao mesmo tempo tão transformador... Acho que ele foi uma pessoa muito abençoada, porque em determinada época da sua vida, ele teve a coragem de dizer não para tudo aquilo que ele não queria mais e então traçar um novo rumo, uma nova direção, no caminho do YOGA.” Márcia Muller

 “Não é preciso dizer nada que já não tenha sido dita sobre a sua generosidade, equanimidade e tantas outras qualidades que esforçamo-nos em adquirir.
Nele tudo isso fluía, assim como as águas do Ganges desembocando em um vasto oceano de PREM.” Gopala

Este Francisco ensinava que devemos sempre levantar o ânimo das pessoas, com a palavra e o sorriso. E assim agia em seu cotidiano deixando por onde passava um rastro de alegria e confiança. Sentia e enxergava a centelha divina em cada um e tratava cada pessoa como se estivesse venerando a Deus.

Quem o conheceu comprova que ele tinha sempre um olhar, uma palavra especial  para cada pessoa, sem despertar inveja ou ciúme.

 “...gostaria de contar para os colegas que lerem esta, uma pequena historinha que guardo comigo:
De costume, no final de todas as aulas, o professor Cosmelli, após a relaxação final, encerrava a aula e ficava distribuindo abraços e beijos a todos (homens e mulheres, velhos e novos).
Naquele dia, eu estava observando o professor, e assim que ele cumprimentou a todos me aproximei dele para um abraço e beijo. Sobramos nós dois na sala e começamos a conversar, uma pequena conversa que não me lembro exatamente como começou. Caminhando em direção a porta, o professor me dizia algo sobre a Índia. Dizia algo, e me demonstrou profunda alegria por aquele lugar. Então me motivei a fazer uma pergunta:
-”Professor”, eu disse, “o senhor não pensa em voltar para lá”. Então ele parou de caminhar, se virou de lado para mim, me olhou e sorriu um sorriso de contentamento puro e disse, colocando a mão no coração:
-“Os Himalaias* estão aqui”.
Isto é tudo. Eu não poderia dizer mais nada. Quem teve a oportunidade de viver um pouquinho com ele, sabe que isto é verdade. Dez mil alunos passaram por ele, em mais de quarenta anos dedicados ao Yoga. Foi uma das pessoas que abriu portas para a entrada desta técnica de auto-realização no Brasil, em uma época muito diferente de hoje. Todos nós, temos muito a agradecer. Em verdade o Brasil tem muito a agradecer. Todos tem a agradecer.
De fato, aonde ele estava, ali estava um pouquinho dos Himalaias.” Márcio Neumann

E era impressionante como ele acreditava no melhor das pessoas. Tão contagiante e verdadeiro que não restava o que fazer além de confiar em si próprio simplesmente porque ele acreditava!

 Ao mesmo tempo forte, gentil e divertido como uma criança que quer aproveitar ainda mais o céu azul, o verde das árvores, o sorriso e o calor das pessoas. 

Sua companheira, Vera, recebeu como herança a maneira de viver o Yoga na vida. E a cada dia, ela segue espalhando este tesouro que recebeu em vida de seu Mestre e amado em todas as direções.  “Sou grata à vida por ter me permitido viver ao lado desse ser tão especial. Ele era um menino de 75 anos, tinha o coração puro e muita sabedoria. Amava tudo e a todos, sempre tinha uma palavra de carinho e sempre salientava o lado bom das pessoas. Ele expressava seus sentimentos derramando sobre as pessoas carinho, alegria, gentileza e amor. Ele dizia que a contabilidade espiritual funcionava de forma diferente: quanto mais se dá, mais se recebe. Mas ele não dava para receber, dava porque sua natureza era essa...Ele amava a vida, podia viver plenamente cada momento, vivia cada momento com todo o seu ser, mas também podia amar a morte, pois sabia que esta palavra não expressava a verdade. Ele dizia que “morrer” era apenas libertar a alma, renascer, como abrir as portas da gaiola e permitir que o pássaro alçasse vôo, livre, finalmente livre! Para talvez voltar em outro corpo, como alguém troca de roupa quando está muito gasta. Não tinha medo de nada, tinha a coragem daqueles que não lutam, entregam-se e sempre vencem. A “morte”: o prêmio merecido para o vencedor”.  Vera Lúcia Dias 

E, assim esse Francisco, a exemplo do outro, o santo, continua pregando o amor para os seres da mata, dos céus e das águas através da emanação de compaixão que brotou em cada pessoa que recebeu seu terno toque. 

Na sua passagem por aqui deixou em cada coração uma mudinha da árvore do Yoga.

Sua amorosa presença continua no Centro de Yoga e Meditação em Porto Alegre através dos professores e dos alunos, quem chega pode comprovar.

Hari Om Tat Sat!

Karunananda (Claudia Ruschel Lima), eterna aluna.

Para conhecer um pouco mais sobre o Professor Francisco Cosmelli entre no site: http://www.cosmelliyoga.com.br